quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

A ignorância é uma bênção

A Bíblia tem metáforas fantásticas. Delas podemos retirar princípios e filosofias válidos ainda hoje.
Uma das metáforas que mais me fascina é a da tentação de Eva. Há quem veja nesta metáfora a origem da mulher enquanto portadora do pecado. É uma visão machista.

Para mim, aquela macieira era a árvore do conhecimento. E quando Adão e Eva comeram a maçã, abriram os olhos e conheceram-se a si próprios e ao mundo que os rodeia. Foi aí que começou o sofrimento deles. Viver de olhos fechados, viver ignorante, é uma bênção. Conhecer, compreender, ser inteligente transforma-nos em seres sofredores.

Talvez seja por isso que admiro a felicidade simples de um pastor, de um carpinteiro, de um agricultor. Acordam de manhã, vão para o seu trabalho, regressam para jantar com a família, vão beber uns copos e ver o jogo de futebol para o café da aldeia com os amigos. Vivem na ignorância e, à sua maneira, são felizes.

Nos dias de hoje, nós, os que vivemos nesta floresta de cimento, temos o dom da inteligência, mas no fundo nunca saberemos o que é ser verdadeiramente feliz.

8 comentários:

Anônimo disse...

1º A narrativa adâmica não é mera figura de estilo literária, mas uma narrativa simbólica (e, para os crentes, divinamente revelada)de um certo estado ou condição de existência da humanidade, que encontra paralelos em muitas tradições culturais doutros povos.

2º Se tivéssemos o "dom da inteligência" não vivíamos em "florestas de comento".

fernando alves disse...

Concordo plenamente! Talvez não sejamos, afinal de contas, tão inteligentes como pensamos.

Anônimo disse...

acho a sua visão interessante, mas a escolha do exemplo do pastor foi muito mal feita, é como dizer que as pessoas do interior ou das zonas rurais são mais ignorantes, quando não é verdade, hoje em dia mesmo a tecnologia está em todo o lado, além da educação, ignorantes são os cidadãos das urbes que julgam que os habitantes das aldeias é que são os ignorantes e os coitadinhos...

fernando alves disse...

Não me leve a mal. Eu próprio sou de uma zona rural. O exemplo da ignorância do pastor refere-se não tanto à sua inteligência mas ao seu estilo simples de vida.

MCA disse...

Será que vivem na ignorância? Acho que não... têm menos poluição informativa (como outras poluições) mas isso não é ignorância. É como dizer que se vestem mal porque não se vestem na Zara ou que comem mal porque não comem no McDonald's.

fernando alves disse...

Aos nossos olhos é ignorância mas, vistas bem as coisas, trata-se de sabedoria popular e de saber viver.

blackjack disse...

exacto, vamos todos ser pastores, carpinteiros, porque não? pensar doí...portanto, vamos todos dar o nosso máximo para sermos o mais insignificantes possível! que tal?

essa forma de ver o mundo é cobarde, devias estar satisfeito por conseguires colocar essa mesma questão a ti próprio demonstrando que és algo mais do que qualquer outro triste neste mundo que vive somente para vinho e futebol, não arranjes desculpas para a tua "infelicidade".
a felicidade não se encontra na concretização (ser rico, ser uma estrela de cinema, ter mulheres), mas sim no percurso que fazes para alcançar algo que procuras. É durante esse mesmo percurso que te sentes realizado, só que...para a maioria de nós já não há nada a aspirar a não ser chegar a reforma vivo após uma vida de trabalho.

dito isto, eu não sou feliz, por isso talvez o segredo seja encontrar algo pelo qual valha a pena fazer um longo, longo percurso.

mas certamente não pretendes passar por este mundo como quem visita um museu de passagem, a nossa existência é para ser vivida no máximo, e tu não sendo O pastor, podes apreciar e entender e sentir muito mais neste mundo do que simplesmente "beber uns copos"

"mais vale um dia na pele de um tigre do que 100 anos na pele de uma ovelha"

Anônimo disse...

Talvez nossas mentes é que estejam fechadas e associem "ignorância" apenas a "falta de conhecimento" ou, pior, "burrice". Na minha opinião, a metáfora do pastor foi muito bem colocada, usando o termo no sentido mais puro da palavra, "inocência".